quinta-feira, 9 de junho de 2011

O FARDO DA PERFEIÇÃO


Você já se viu às voltas com um trabalho e ficou ansioso por não considerar o resultado final satisfatório? Já  refez várias vezes um texto antes de publicá-lo no blog ou apresentá-lo à sua chefia?

Muitos responderão que sim. É natural nos empenharmos nas nossas tarefas e termos aquela gostosa sensação de dever cumprido. Ao final de uma dia movimentado, chegar e respirar fundo e pensar: fiz tudo que estava ao meu alcance e agora posso ir para casa tranquilo.

O problema é quando levamos o trabalho para os nossos lares e, à noite, não conseguimos nos desconectar das atividades realizadas ao longo do dia, dando ensejo, não raro, à insônia.

O homem moderno vive a 100 por hora e um dia de vinte e quatro horas já não é suficiente. Ouvimos muita gente falar  que o dia deveria ter quarenta e oito horas.

Manter o ritmo e a qualidade de nosso trabalho nem sempre é tão fácil. Às vezes´o melhor é parar, encher os pulmões de ar e se permitir relaxar. Recarregar as baterias é fundamental. Evita que a máquina entre em pane.

Não se consegue fazer tudo certinho o tempo tempo, há momentos em que erramos feio e ai vem aquela cobrança implacável auto- imposta, afinal tudo tem de estar na mais perfeita ordem. E é aí que está o “x” da questão. A bendita da perfeição.

Muitos passam a vida buscando-a, acreditando que um pequeno erro  pode lhes retirar a glória de uma vida bem sucedida. Alto lá! Calma! Sinto muito em contrariar esses expoentes do indefectível, mas a perfeição não existe. Sim é isso mesmo, ela está sempre à nossa frente. É como se corrêssemos atrás da sombra.

A perfeição é um ideal, não se realiza no mundo dos humanos. Trata-se de um referência, um farol que norteia e aponta o caminho a percorrer. O conhecimento, ao contrário da ignorância, é limitado e ainda que tivéssemos mais três vidas não conseguiríamos saber tudo.

Há tanta coisa a ser aprendida, tantos pontos de vista. Só um tolo acredita que a sua opinião alberga uma verdade incontrastável. Há tantas maneiras diferentes de se fazer as coisas e todas igualmente válidas. O mundo é multifacetário.

Para aliviar a tensão, um expediente interessante é parar e contemplar a vida. Se permitir não pensar de forma utilitária e não levar tão a sério os problemas, muito dos quais se resolvem sozinhos se não lhes dermos muita atenção.

Dar o melhor de nós é louvável e deve ser incentivado. Contudo, não se afigura razoável levar isto às ultimas consequências. Precisamos fazer de vez em quando um print stop para depois voltar à corrida, agora com maiores chances de êxito.

Platão defendia o ócio criativo. De fato, quando estamos envolvidos em várias tarefas a nossa capacidade criativa sofre limitações. Portanto, algo que valha à pena tem de ser bem refletido, mastigado e digerido, tarefa que nem sempre se compadece com um vida muito acelerada.

Assim, da próxima vez que cogitar a perfeição pare e pense que ela só existe em seres sobrenaturais, mitológicos e nos mortos. A própria idéia de Deus é amparada num desejo antigo do homem em encontrar um ente incorruptível e acima do bem e do mal.

Aliás, Jesus, segundo os Evangelhos, disse a seus discípulos: "sede meus imitadores". Somos, com efeito, imitadores de um ente chamado perfeição e, como se sabe, o imitador não se torna o imitado, mas chega bem próximo. O caminho para a sabedoria é o do meio.

Um forte abraço e até a próxima.

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