Noel
Rosa, boêmio, frequentador dos botequins, homem de vida intensa.
Viveu o que podia e de forma glamurosa. Morreu muito moço, com apenas vinte e seis anos, ao estilo
romântico, assim como Castro Alves, teve por companheira final
hemoptises inclementes.
Deixou um
legado de mais de duzentas composições que ganham vida e contornos novos a cada interpretação por
ícones de nossa música popular brasileira.
Canções
como “Último Desejo” e “Com Que Roupa” marcaram por sua
intensidade e irreverência. A primeira conta o lamento de um homem
cuja relação amorosa teve um desfecho triste e sofrido. Lembro-me
de meu pai, que volta e meia a cantarolava como se a sentisse e fosse
personagem da história. A segunda, revela um malandro meio
atrapalhado que resolve dar um basta e colocar as coisas nos eixos na
seara amorosa, prometendo mudar sua conduta e se aprumar.
A vida e obra de Noel já foram objeto de livro e filmes e estas composições funcionam como uma espécie de recepcionistas na porta de entrada de
uma grande trabalho que deixou marcas indeléveis na música popular
brasileira.
Ouçam,
então, e se deleitem com essas duas pérolas do patrimônio
nacional.
Um forte
abraço e até a próxima.
ÚLTIMO DESEJO
Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão
Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo
Mas meu último desejo
Você não pode negar
Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação
Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim
COM QUE ROUPA?
Agora vou mudar minha conduta
Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bruta
Pra poder me reabilitar
Pois esta vida não está sopa
E eu pergunto: com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Agora eu não ando mais fagueiro
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
Não consigo ter nem pra gastar
Eu já corri de vento em popa
Mas agora com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Eu hoje estou pulando como sapo
Pra ver se escapo desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo
Eu vou acabar ficando nu
Meu terno já virou estopa
E eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?