Que mundo
diferente!
Segundo a
canção de Belchior, “ainda
somos os mesmos e
vivemos como os
nossos pais”. Será?
Vivi a
minha adolescência na
década de 80. Naquela
época, as coisas eram
um pouco diferentes.
Os serviços públicos oferecidos
deixavam a desejar.
Telefone era artigo
de luxo e demorava
muito para se conseguir.
Tempo em que se
criavam dificuldades
para vender facilidades.
Não se
ouvia falar em passeata
gay e muito menos
em casamento. O país
vivia uma recessão e
os militares pareciam ter
se cansado do poder.
Tudo prenunciava uma
transição para um
novo regime.
A União
Soviética rivalizava
com os EUA gerando
o clima da guerra
fria. Na escola púnhamos
a discutir quem tinha
maior poderio bélico e
confesso que na
ocasião me posicionava
ao lado dos russos,
talvez porque, como muitos
da minha geração, via
o comunismo de uma
forma romântica. KGB e
CIA estavam sempre em
nossos assuntos. A música também fazia parte das
conversas, assim como a obra e vida dos músicos.
Já não
me interessava tanto por
Roberto Carlos e
estava de olhos atentos
aos baianos Caetano e
Gil e observava
a canção de Chico
com muito interesse.
Este último, aliás, me
conquistou com a
canção Cálice.
O tempo
foi passando e novas
experiências se sucederam.
Trabalho, faculdade,
novos amigos, ídolos, o
rock nacional e o
interesse crescente
pela música da década
de 40 a 60: Chico
Alves, Orlando Silva, Mário
Reis, Cauby Peixoto, Nelson
Gonçalves, Dick Farney,
bossa nova etc. Descobrindo
um mundo já descoberto.
Até que
veio o casamento,
depois os filhos. Estes
mudaram a minha
percepção da vida
de forma mais incisiva,
pois me fizeram ver
que temos obrigações
inafastáveis. Vê-los
reproduzindo o nosso
comportamento é deveras
estimulante e ao
mesmo tempo preocupante.
Logo os bebês se
tornam adolescentes e aí vem as situações embaraçosas, como, por exemplo, assistir
às bitocas da filha com o namorado.
Tem também as amigas
da filha te chamando
de tio e o
meu garoto pedindo para
eu comprar jogos e
o bendito do bakugan.
Aí a ficha cai:
estou envelhecendo. Caramba
e só agora fui
perceber!
É gente,
demora um pouco para
aceitar que o
tempo passa para todo
mundo.
Mas ainda
consigo me entusiasmar.
Fico impressionado com
os avanços tecnológicos
e me pergunto como
será daqui a quinhentos
anos. Nesta seara tem
sempre novidade. É o
leptop, celular, smartphone, tablet
etc.
O charmoso
é que o futuro
é misterioso e está
aí para ser construído
de acordo com as
nossas escolhas. O passado
é imutável e nada
será como antes, por
isso, não adianta se
iludir achando que vai
reproduzir experiências
passadas do mesmo modo.
Tudo é diferente,
novas sensações e prazeres.
O dia seguinte tem
sua própria fisionomia.
Belchior estava
parcialmente correto na
canção, pois as referências
da família não são
completamente apagadas. A
elas acrescentamos as
adquiridas ao longo
da vida e a
cada geração os paradigmas
vão mudando. Talvez os
ídolos, no sentido que
a letra quis dar,
ainda sejam os mesmos...
Um forte
abraço a todos e
até a próxima.