domingo, 4 de setembro de 2011

CAINDO A FICHA


Que mundo diferente!

Segundo a canção de Belchior, “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. Será?

Vivi a minha adolescência na década de 80. Naquela época, as coisas eram um pouco diferentes. Os serviços públicos oferecidos deixavam a desejar. Telefone era artigo de luxo e demorava muito para se conseguir. Tempo em que se criavam dificuldades para vender facilidades.

Não se ouvia falar em passeata gay e muito menos em casamento. O país vivia uma recessão e os militares pareciam ter se cansado do poder. Tudo prenunciava uma transição para um novo regime.

A União Soviética rivalizava com os EUA gerando o clima da guerra fria. Na escola púnhamos a discutir quem tinha maior poderio bélico e confesso que na ocasião me posicionava ao lado dos russos, talvez porque, como muitos da minha geração, via o comunismo de uma forma romântica. KGB e CIA estavam sempre em nossos assuntos. A música também fazia parte das conversas, assim como a obra e vida dos músicos.

não me interessava tanto por Roberto Carlos e estava de olhos atentos aos baianos Caetano e Gil e observava a canção de Chico com muito interesse. Este último, aliás, me conquistou com a canção Cálice.

O tempo foi passando e novas experiências se sucederam. Trabalho, faculdade, novos amigos, ídolos, o rock nacional e o interesse crescente pela música da década de 40 a 60: Chico Alves, Orlando Silva, Mário Reis, Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Dick Farney, bossa nova etc. Descobrindo um mundo descoberto.

Até que veio o casamento, depois os filhos. Estes mudaram a minha percepção da vida de forma mais incisiva, pois me fizeram ver que temos obrigações inafastáveis. -los reproduzindo o nosso comportamento é deveras estimulante e ao mesmo tempo preocupante.

Logo os bebês se tornam adolescentes e aí vem as situações embaraçosas, como, por exemplo, assistir às bitocas da filha com o namorado. Tem também as amigas da filha te chamando de tio e o meu garoto pedindo para eu comprar jogos e o bendito do bakugan. a ficha cai: estou envelhecendo. Caramba e agora fui perceber!

É gente, demora um pouco para aceitar que o tempo passa para todo mundo.

Mas ainda consigo me entusiasmar. Fico impressionado com os avanços tecnológicos e me pergunto como será daqui a quinhentos anos. Nesta seara tem sempre novidade. É o leptop, celular, smartphone, tablet etc.

O charmoso é que o futuro é misterioso e está para ser construído de acordo com as nossas escolhas. O passado é imutável e nada será como antes, por isso, não adianta se iludir achando que vai reproduzir experiências passadas do mesmo modo. Tudo é diferente, novas sensações e prazeres. O dia seguinte tem sua própria fisionomia.

Belchior estava parcialmente correto na canção, pois as referências da família não são completamente apagadas. A elas acrescentamos as adquiridas ao longo da vida e a cada geração os paradigmas vão mudando. Talvez os ídolos, no sentido que a letra quis dar, ainda sejam os mesmos...

Um forte abraço a todos e até a próxima.

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