Li ainda há pouco no Yahoo Notícias que o Rio de Janeiro teve o primeiro “casamento” gay oficializado.
Na mesma notícia, diz-se que o “casamento” foi confirmado porque se
comprovou a união contínua, estável e duradoura do “casal”.
As palavras
“casamento” e “casal” se grafam com aspas porque dois homens ou duas
mulheres não podem “casar-se”, nem podem formar um “casal”, devido à
semântica do verbo e do substantivo, associada à união de pessoas
necessariamente de sexos opostos.
Quando um
casal tem dois filhos meninos, ou duas meninas, nunca se diz que eles
têm um “casal”. Aliás, nessa de tentar ter um “casal”, às vezes o casal
acaba tendo uma porção de filhos do mesmo sexo, e desiste, por razões
financeiras, de ter o sonhado “casal”.
Não sou contra
a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Não sou contra o amor, o
namoro entre pessoas do mesmo sexo. Mas sou contrário, por razões
estritamente linguísticas, à afirmação de que dois homens ou duas
mulheres possam formar um “casal” ou possam “casar-se”.
Sei do aspecto
em certa medida caótico da semântica, e sei também que novos sentidos
se criam para antigas palavras. No entanto, o léxico é aberto mas não é
escancarado. O vocabulário de uma língua não pode atentar contra a
lógica. A palavra “matrimônio”, por exemplo, traz em sua raiz latina o
sentido ainda resguardado de “predisposição à maternidade”.
Etimologicamente, quando uma mulher e um homem se casam, a mulher, em
tese, assumiria diante das leis de Deus e dos homens que está disposta a
ser mãe.
Também sei que
há casais que nunca têm filhos. Representariam uma família?
Tecnicamente, não. O vocábulo “família” pressupõe necessariamente a
união de um homem e uma mulher, dando origem a pelo menos um filho, este
representando a consumação da nova família formada. Quando não há
filhos, não se faz referência a uma família. Exemplifique-se com este
diálogo:
– Quem mora na casa ao lado?
– Um casal sem filhos.
Ou seja, a pessoa nunca responde “uma família sem filhos”.
Em síntese,
penso que os homossexuais não deveriam pleitear a semiótica e os valores
cristãos, que gerenciam o mundo ocidental, como forma de legitimar as
suas uniões. Penso que eles deveriam assumir, publicamente:
a) que não compartilham valores cristãos (valores heterossexuais);
b) que atentam contra o conceito de família que ainda vigora no mundo atual;
c) que
inauguram, com suas uniões públicas e registradas, um paradigma de
relacionamento que ainda carece de designação apropriada.
Sublinhe-se
que dois homens ou duas mulheres que morem juntos e comprovem uma
relação duradoura devem, sim, ter os mesmos direitos (e deveres) que têm
os casais. O problema que se coloca aqui é puramente lexical.
Como chamaríamos, então, a celebração pública da união entre homossexuais. Chamemos união,
termo que me parece mais adequado à realidade designada. Dois homens
podem se unir, namorar, residir na mesma casa, assim como duas mulheres.
No entanto,
entrarem esses dois homens ou duas mulheres numa igreja para a bênção do
padre me parece uma agressão aos valores mais elementares do
cristianismo. Mesmo porque o padre ficaria em maus lençóis ao tentar
dizer: Eu vos declaro marido e...
20.04.12