terça-feira, 27 de dezembro de 2011

DOCE DÉCADA

As imagens da década de 70 nunca estiveram tão cristalizadas quanto no filme Doces Bárbaros, na verdade um documentário de Jom Tob Azulay, de 1976, que registra a turnê do grupo. Imagens dos quatro baianos, todos ainda muito magrinhos com look hippie e comportamento letárgico bem em sintonia com o clima da época, nos deixa saudades de um passado bem próximo.

É possível se vê também alguns integrantes dos novos baianos como Baby Consuelo, ora Baby do Brasil e Paulinho Boca de Cantor em momentos descontraídos com Caetano Veloso e Dedé, ex mulher deste último. O documentário mostrou, ainda, o julgamento e condenação de Gilberto Gil, por porte de maconha, em Florianópolis, como incurso no artigo 281 do Código Penal - a revogada lei 6368/76 nem tinha entrado em vigor.

É curioso perceber o clima daqueles tempos através da película. A gravação da audiência do julgamento de Gil é muito interessante com momentos engraçados. Tudo é muito cafona (mais um termo da época), juiz, promotor, defesa, máquina de escrever. É hilária a forma de o Promotor se referir à maconha como erva maldita e a menção que o magistrado faz sobre o depoimento do réu dizendo que a droga o auxiliava na introspecção mística.

Os discursos vazios daquela década ecoam por todo o documetário, dando a impressão que o período foi marcado pelo silêncio e ignorância dolosos, como uma espécie de proteção contra a ditatura feroz que marcou o final dos anos 60 e início dos anos 70.

O próprio Caetano assumiu um vocabulário monossilábico sem ir a fundo em coisa alguma, em patente antagonia com o seu discurso inflamado tecendo críticas à plateia de um festival que participara no final dos anos 60, fato registrado em gravação de áudio e conhecido dos fãs de carteirinha.

A segunda metade do período em tela foi tomada pela discoteque, levando milhares de jovens às pistas de dança e pondo uma pá de cal na agonizante consciência política, prenunciando a crise recessiva que se verificaria nos anos 80 com o aumento do desemprego e inflação galopante.

Olhando para trás, me pergunto se as coisas poderiam ter sido diferentes e logo me vem a resposta: cada coisa tem o seu tempo e a reprodução daqueles hábitos e estética soaria hoje ridículo e extemporâneo. Um bom exemplo disso são homens que insistem e manter cabelos compridos (ou o pouco que ainda lhes resta) e fazer o V do paz e amor. Desculpem-me, mais isso soa tão piegas (rs).

Bom, é isso aí, bicho. Mas como cantava o saudoso Cazuza, o tempo não pára. Vamos curtir o agora e rir dele mais tarde num outro clima sem ou com bastante caretice e talvez entrar numa...(rs)

Um  forte abraço a todos e até a próxima.







segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

BONS SONHOS


Durante o café da manhã, meu filho comentou que não havia sonhado na noite passada. Eu prontamente lhe disse que sonhamos todos os dias, mas nem sempre nos lembramos. Os sonhos, não raro, são deletados sumariamente da memória.

A partir daí, pús-me a explicar, de forma mais simples possível, como a coisa se passava, relatando que a experiência onírica é apagada da memória porque não chegou a existir na realidade. Ela é a reconstrução de nossa percepção do dia e uma compensação às nossas frustrações. Nos sonhos, amiúde, vemos o que desejamos.

A loucura reside exatamente em não mais se distinguir o mundo real do onírico. É como se o louco existisse numa outra realidade. Daí que o esquecimento do sonho é um mecanismo psíquico que visa justamente a manutenção do equilíbrio mental.

Sonhar acordado já é outra coisa completamente diferente. Nesse modo, planejamos e temos até um antegozo de algo que talvez nem ocorra na prática. Antecipamos várias experiências positivas ou negativas, imaginando como seria ou como será e com isso o nosso corpo, desde logo, tem sensações agradáveis ou desagradáveis.

Vivemos de memórias. Os passeios, as paisagens são registradas em nossa mente e são relembradas indefinidamente, funcionando como um espécie de oásis. Isso me faz lembrar um filme do Arnold Schwarzenegger em que era possível fazer implante de memória de lugares e situações que nunca vivenciou na prática (Sinopse: Em mais uma das adaptações do autor Philip K. Dick para cinema, em outro grande sucesso de bilheteria, Arnold Schwarzenegger vive o papel de Quaid, que comprou um pacote de férias para Marte, na realidade um sonho que o fará viver como agente secreto no Planeta Vermelho. Chegando lá, as coisas começam a se complicar, e ele passa a ter dúvidas se está vivendo mesmo um sonho ou se aquilo tudo é real). É uma questão filosófica interessante...

Certo é que a mente humana é um universo a parte e cada um tem potencial de vivenciar um número variável de experiências. O limite é a imaginação e os entraves são aqueles postos por cada um.

Por isso neste final de ano, sonho com um mundo melhor para todos desejando que os anos vindouros sejam repletos de oportunidades e alegrias com muitos sonhos realizados.

Um forte abraço e feliz ano novo a todos.

domingo, 4 de setembro de 2011

CAINDO A FICHA


Que mundo diferente!

Segundo a canção de Belchior, “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. Será?

Vivi a minha adolescência na década de 80. Naquela época, as coisas eram um pouco diferentes. Os serviços públicos oferecidos deixavam a desejar. Telefone era artigo de luxo e demorava muito para se conseguir. Tempo em que se criavam dificuldades para vender facilidades.

Não se ouvia falar em passeata gay e muito menos em casamento. O país vivia uma recessão e os militares pareciam ter se cansado do poder. Tudo prenunciava uma transição para um novo regime.

A União Soviética rivalizava com os EUA gerando o clima da guerra fria. Na escola púnhamos a discutir quem tinha maior poderio bélico e confesso que na ocasião me posicionava ao lado dos russos, talvez porque, como muitos da minha geração, via o comunismo de uma forma romântica. KGB e CIA estavam sempre em nossos assuntos. A música também fazia parte das conversas, assim como a obra e vida dos músicos.

não me interessava tanto por Roberto Carlos e estava de olhos atentos aos baianos Caetano e Gil e observava a canção de Chico com muito interesse. Este último, aliás, me conquistou com a canção Cálice.

O tempo foi passando e novas experiências se sucederam. Trabalho, faculdade, novos amigos, ídolos, o rock nacional e o interesse crescente pela música da década de 40 a 60: Chico Alves, Orlando Silva, Mário Reis, Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Dick Farney, bossa nova etc. Descobrindo um mundo descoberto.

Até que veio o casamento, depois os filhos. Estes mudaram a minha percepção da vida de forma mais incisiva, pois me fizeram ver que temos obrigações inafastáveis. -los reproduzindo o nosso comportamento é deveras estimulante e ao mesmo tempo preocupante.

Logo os bebês se tornam adolescentes e aí vem as situações embaraçosas, como, por exemplo, assistir às bitocas da filha com o namorado. Tem também as amigas da filha te chamando de tio e o meu garoto pedindo para eu comprar jogos e o bendito do bakugan. a ficha cai: estou envelhecendo. Caramba e agora fui perceber!

É gente, demora um pouco para aceitar que o tempo passa para todo mundo.

Mas ainda consigo me entusiasmar. Fico impressionado com os avanços tecnológicos e me pergunto como será daqui a quinhentos anos. Nesta seara tem sempre novidade. É o leptop, celular, smartphone, tablet etc.

O charmoso é que o futuro é misterioso e está para ser construído de acordo com as nossas escolhas. O passado é imutável e nada será como antes, por isso, não adianta se iludir achando que vai reproduzir experiências passadas do mesmo modo. Tudo é diferente, novas sensações e prazeres. O dia seguinte tem sua própria fisionomia.

Belchior estava parcialmente correto na canção, pois as referências da família não são completamente apagadas. A elas acrescentamos as adquiridas ao longo da vida e a cada geração os paradigmas vão mudando. Talvez os ídolos, no sentido que a letra quis dar, ainda sejam os mesmos...

Um forte abraço a todos e até a próxima.

domingo, 31 de julho de 2011

COM QUE ROUPA?


Noel Rosa, boêmio, frequentador dos botequins, homem de vida intensa. Viveu o que podia e de forma glamurosa. Morreu muito moço, com apenas vinte e seis anos, ao estilo romântico, assim como Castro Alves, teve por companheira final hemoptises inclementes.

Deixou um legado de mais de duzentas composições que ganham vida e contornos novos a cada interpretação por ícones de nossa música popular brasileira.

Canções como “Último Desejo” e “Com Que Roupa” marcaram por sua intensidade e irreverência. A primeira conta o lamento de um homem cuja relação amorosa teve um desfecho triste e sofrido. Lembro-me de meu pai, que volta e meia a cantarolava como se a sentisse e fosse personagem da história. A segunda, revela um malandro meio atrapalhado que resolve dar um basta e colocar as coisas nos eixos na seara amorosa, prometendo mudar sua conduta e se aprumar.

A vida e obra de Noel já foram objeto de livro e filmes e estas composições funcionam como uma espécie de recepcionistas na porta de entrada de uma grande trabalho que deixou marcas indeléveis na música popular brasileira.

Ouçam, então, e se deleitem com essas duas pérolas do patrimônio nacional.

Um forte abraço e até a próxima.


ÚLTIMO DESEJO

Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João

Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão

Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar

Nunca mais quero o seu beijo
Mas meu último desejo
Você não pode negar

Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação

Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim


COM QUE ROUPA?


Agora vou mudar minha conduta
Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bruta
Pra poder me reabilitar

Pois esta vida não está sopa
E eu pergunto: com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Agora eu não ando mais fagueiro
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
Não consigo ter nem pra gastar

Eu já corri de vento em popa
Mas agora com que roupa?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

Eu hoje estou pulando como sapo
Pra ver se escapo desta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo
Eu vou acabar ficando nu

Meu terno já virou estopa
E eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?

domingo, 24 de julho de 2011

ADEUS, AMY WINEHOUSE

A morte de Amy Winehouse embora previsível, considerando o seu estilo de vida, me surpreendeu pela precocidade.  Uma cantora de voz poderosa, dissonante de seu corpo franzino, deixa esta vida para virar apenas uma memória, que talvez o tempo se encarregue de apagar.

Suspeita-se  que a causa mortis tenha sido o consumo excessivo de drogas ilícitas ou a mistura destas com medicação. Por enquanto tudo não passa de especulação com base no seu histórico que incluiu um ex marido que a apresentou às drogas.

O visual de Amy me encantava, achava-a uma bela mulher, conquanto esta imagem, volta e meia,  se desconstruísse ao visualizá-la nos tablóides em situações vexatórias. A propósito, o vídeo veículado na internet, em que ela estaria fumando crack, e uma foto na qual se podem observar vestígios de pó em suas narinas desenhavam um quadro de degradação assustador.

Morreu tão jovem e deixa como legado uma pequena discografia concebida num cenário de  drogas, sexo e rock and roll.

Agora é aguardar o surgimento de uma nova estrela e novos excessos com aquela mesma sensação dos fãs de Janis Joplim.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

STILL ALIVE

Parei
Por que parei?
Talvez por não ter mais tempo para escrever
Por não sentir prazer em fazê-lo
Por  não ter nada a dizer
Por não querer dizer nada
Preciso dizer algo?
Escrever por escrever
É melhor deixar acontecer
Este blog surgiu pretensioso e acabou ocioso
Há tantas coisas boas e interessantes na blogosfera
Que este espaço restou insignificante
Quero, ao menos por instante, acreditar que tudo foi interessante
Quero querer outra vez
Esquecer que um dia parei
E quiçá voltar, como agora aqui voltei
E sem me delongar mais
Se mais adiante tornar a lançar tintas aqui
É por ter me remediado da falta de idéias
E entender porque me perdi.

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