As imagens da década de 70 nunca estiveram tão cristalizadas quanto no filme Doces Bárbaros, na verdade um documentário de Jom Tob Azulay, de 1976, que registra a turnê do grupo. Imagens dos quatro baianos, todos ainda muito magrinhos com look hippie e comportamento letárgico bem em sintonia com o clima da época, nos deixa saudades de um passado bem próximo.
É possível se vê também alguns integrantes dos novos baianos como Baby Consuelo, ora Baby do Brasil e Paulinho Boca de Cantor em momentos descontraídos com Caetano Veloso e Dedé, ex mulher deste último. O documentário mostrou, ainda, o julgamento e condenação de Gilberto Gil, por porte de maconha, em Florianópolis, como incurso no artigo 281 do Código Penal - a revogada lei 6368/76 nem tinha entrado em vigor.
É curioso perceber o clima daqueles tempos através da película. A gravação da audiência do julgamento de Gil é muito interessante com momentos engraçados. Tudo é muito cafona (mais um termo da época), juiz, promotor, defesa, máquina de escrever. É hilária a forma de o Promotor se referir à maconha como erva maldita e a menção que o magistrado faz sobre o depoimento do réu dizendo que a droga o auxiliava na introspecção mística.
Os discursos vazios daquela década ecoam por todo o documetário, dando a impressão que o período foi marcado pelo silêncio e ignorância dolosos, como uma espécie de proteção contra a ditatura feroz que marcou o final dos anos 60 e início dos anos 70.
O próprio Caetano assumiu um vocabulário monossilábico sem ir a fundo em coisa alguma, em patente antagonia com o seu discurso inflamado tecendo críticas à plateia de um festival que participara no final dos anos 60, fato registrado em gravação de áudio e conhecido dos fãs de carteirinha.
A segunda metade do período em tela foi tomada pela discoteque, levando milhares de jovens às pistas de dança e pondo uma pá de cal na agonizante consciência política, prenunciando a crise recessiva que se verificaria nos anos 80 com o aumento do desemprego e inflação galopante.
Olhando para trás, me pergunto se as coisas poderiam ter sido diferentes e logo me vem a resposta: cada coisa tem o seu tempo e a reprodução daqueles hábitos e estética soaria hoje ridículo e extemporâneo. Um bom exemplo disso são homens que insistem e manter cabelos compridos (ou o pouco que ainda lhes resta) e fazer o V do paz e amor. Desculpem-me, mais isso soa tão piegas (rs).
Bom, é isso aí, bicho. Mas como cantava o saudoso Cazuza, o tempo não pára. Vamos curtir o agora e rir dele mais tarde num outro clima sem ou com bastante caretice e talvez entrar numa...(rs)
Um forte abraço a todos e até a próxima.
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