quarta-feira, 9 de março de 2011

MEIA-IDADE

Li 45 em Língua em Transe e fiquei refletindo sobre os efeitos do tempo em nossa personalidade. Uma canção que me veio logo à mente foi Homem Velho, de Caetano Veloso

Com o passar dos anos tudo parece se repetir. Aquilo que causava deslumbramento não contenta mais. As pessoas vão se afastando e quando se dão conta estão sozinhas. 

Esse processo não é preordenado ele vai acontecendo aos poucos. Requer vigilância manter-se jovem. Não fisicamente, mas nas idéias. Mas, o que é ser jovem ou velho? Tudo ao nosso redor parece ter início, meio e fim, inclusive nós. O universo parece conspirar com a temporalidade das coisas. Não tarda e o jovem trabalhador se torna o aposentado que joga baralho na praça junto com seus pares.

Me recordo de uma professora de Direito Civil, a qual dizia que o Direito estabelece prazo para tudo. O Direito não socorre àqueles que dormem, é uma máxima mais do que conhecida nos meios acadêmicos. A própria composição dos Tribunais é temporária, mudando seus integrante de tempos em tempo. O poder tem prazo, seja imposto pela Constituição, seja pela revolta popular ou mesmo pelo natural efeito do tempo sobre o governante, a exemplo do que ocorreu com Fidel Castro.

Nesse contexto, nos sentimos oprimidos e, amiúde, solitários. Saber que tudo um dia vai acabar e nãot er a certeza de que existe outro nível de vínculo. Para contornar isso a mente cria expedientes dos mais diversos, nos ocupando de tal maneira que a idéia de fim é afastada. São as causas humanitárias, a disputa política, a crença na vida após a morte, alguém de quem cuidamos e que precisa de nós. 

A vida continua. Paradoxalmente é justamente essa idéia de limite que nos motiva e estimula a produzir. Saber que temos pouco tempo nos faz traçar metas mais conscienciosas. Isto também nos deixa a obrigação de orientar os filhos, cuja noção de eternidade não lhes deixa perceber os percalços ao longo do caminho e a necessidade da correção de rumos. Sim, este dever de educar, orientar nos dá uma sobrevida e um fôlego adicional para continuar.

Há vantagens em se chegar a meia idade, uma delas é a tomada de consciência, o enxergar mais além, fugir do imediatismo e assumir a função de orientador, de referência, sem deixar de ter as nossas próprias e novas referências.

O futuro é uma folha em branco e o mistério quanto ao que ainda vai acontecer nos proporciona suprimento suficiente para seguirmos adiante e, nessa empreitada, travamos batalhas diárias, superando obstáculos e encarando novos desafios. Não há volta. A ponte pela qual passamos foi explodida, e ao Éden não é mais possível retornar.

Um forte abraço a todos e até a próxima.

2 comentários:

  1. Às vezes a vida parece não ter muito sentido. O problema é que todos estão atrás desse sentido: todos querem um porquê fundamental para sua existência...

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  2. Fernando, o seu comentário me fez lembrar uma fala do Cinema Falado, em que o Vaguinho diz:"a vida não precisa de justificativa". Lembra? Fato é que nós buscamos mesmo um sentido para ela. Penso que o suicida é aquele que não viu mais nenhum sentido na vida e, por isso, abriu mão dela, talvez motivado por uma esperança de encontrar algo diferente do outro lado.

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