quarta-feira, 10 de março de 2010

O QUE ACONTECEU À LEILA LOPES?

O homem pode viver sem valores morais?
Um caso recente me fez pensar sobre essa indagação. Uma atriz que brilhou nas telas da Rede Globo em pelo menos três telenovelas, deu cabo de sua vida aos 50 anos de idade: a Polícia, segundo noticia a mídia, trabalha com a hipótese de suicídio. O último trabalho da atriz foi protagonizando um filme pornográfico “Pecados e Tentações”. Para muitos, sinal evidente de decadência; outros vêem como um novo filão do mercado, já que atores e atrizes famosos recebem um alto cachê para contracenar nesse tipo de filme.
Mas o que tudo isso tem a ver com a pergunta inicialmente formulada? Bem, penso que tudo. Nós somos produto de uma cultura na qual valores básicos nos são ensinados desde tenra idade e, nesse ponto, a religião tem papel importante.
Católico ou protestante, a idéia do que é certo e errado é passada de forma não muito diferente e está ancorada num conjunto de valores socialmente aceitos. Mesmo Nietzsche, do alto do seu implacável ateísmo, não descartou a existência dos valores morais, o que ele rechaçava era a moral cristã, sob o argumento de que se prestava à escravização do indivíduo, impedindo-lhe o pleno desenvolvimento.
Não é difícil imaginar o efeito causado em alguém, que outrora gozara do respeito e consideração de seus pares, ao perceber que seus antigos amigos desapareceram juntamente com as oportunidades profissionais em filmes e novelas convencionais. Sem nada para se apoiar, a linda atriz experimentou o imenso vazio provocado pela falta de perspectiva. 
Fato é que mesmo entre os aspirantes a super-homens no sentido nietzsheano verifica-se a observância de normas básicas de sobrevivência calcadas em valores há muito estabelecidos e consolidados no seio da coletividade.
De um modo geral, os indivíduos querem ser respeitados, amados, desejados e até mesmo invejados. Ninguém quer ser aquele jogador que o grupo empurra para o time adversário. Enfim, todos querem se sentir importantes nessa imensa engrenagem.
Quando criança, nossos pais ensinaram-nos a respeitar os mais velhos, a não nos apropriarmos de bens alheios e de pautar nossas condutas na honestidade e sempre buscar fazer o que é justo.
Na medida em que entramos no mundo adulto, descobrimos que as relações sociais são mais complexas do que enxergávamos e na universidade aprendemos a relativizar e perceber finalmente que não há verdades absolutas.
Daí muitos entram em crise existencial, pois se apercebem de que tudo aquilo em que acreditavam não estava assentado em alicerce sólido e inexpugnável.
As disciplinas introdutórias ministradas nas faculdades preparam os universitários para compreender como se chegou ao conhecimento que se almeja dominar, e aquele acaba por concluir que a sociedade nem sempre foi da forma como é hoje. A religião, a política, as relações entre os indivíduos sofreram mutações ao longo dos séculos até se chegar ao desenho atual.
Com isso, se percebe que a fisionomia social é resultante de variáveis de cada época, formando um todo complexo, matéria-prima da Antropologia e ciências afins.
Mas, apesar de toda relativização decorrente do conhecimento acumulado, especialmente nos meios acadêmicos, a humanidade não prescinde de valores básicos norteadores da nossa curta existência, a exemplo da dignidade, respeito, honestidade, dentre outros. Sem eles a coexistência é muito dificultada e as conseqüências, não raro, nefastas.
Nesse diapasão, a culpa se apresenta como um sinalizador de um comportamento dissonante, dissonância esta consubstanciada no exercício das liberdades sem a correspondente assunção de responsabilidades aduzida por Sartre.
Sim, a culpa nesse contexto funciona como um termostato e não deve ser encarada de forma negativa, antes como um aviso da necessidade de mudança. O passado é imutável, o presente está acontecendo e o futuro ainda vai ocorrer, sendo assim só temos domínio sobre estes dois últimos entes.
Acredito que o suicídio de Leila Lopes, assim como de outras personalidades públicas deve servir de alerta. A vida é bela, mas também tem seus percalços e tudo se passa numa relação de causalidade sobre a qual temos ingerência e nesse sentido acredito que estar sustentado em valores caros permite-nos acertar nas escolhas feitas.
Diante de tudo que foi dito, deixo agora que o leitor responda a pergunta inicial.

8/12/2009

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