Parecia uma tela de Picasso, o retrato de uma época, aquarela cintilante, fervor cultural: isso é o tropicalismo. O rompimento com o estabelecido. Tudo era questionável, o sistema político, a estética, as pessoas da sala de jantar, a normalista.
Nesse cenário se tinha a queima de sutiãs, a pílula anticoncepcional, a liberação sexual, o êxtase do LSD, a guerra fria, as passeatas pelas ruas de Paris, o filme Terra em Transe, de Glauber Rocha, sendo exibido ali, a transformação diante dos olhos de uma geração hoje terceira idade.
É certo que para muitos nada disso teve significado. Para estes, aquilo era modismo e passageiro, não viam com a razão. Como disse Jabor, em Opinião Pública, o cabelo comprido, signo de rebeldia, foi logo banalizado em moda.
Arnaldo Jabor retratou, de forma cristalina, a classe média de 1967, evidenciando que o destino do Brasil sempre esteve em mãos oligárquicas. Os filmes que se seguiram adotaram um tom mais pscicanalítico, levando à tela as peças de Nelson Rodrigues.
Na política, tudo parecia estar manietado pelos militares, os quais, para alguns, devolveriam o poder tão logo restabelecessem a ordem social quebrada no governo de João Goulart. O Brasil viveu, então, sua idade das trevas no que diz respeito à liberdade de imprensa. Contudo, o trabalho artístico ganhou muito em qualidade. Onde quase nada se podia, a produção cultural tinha que encontrar meios de burlar a censura e atender ao público, como uma forma de resistência.
Foram três décadas de ditadura militar com reflexos positivos e negativos. De bom, pode-se mencionar o chamado milagre econômico que alavancou o crescimento do país com investimentos na indústria de base. O PIB nesse período aumentou significativamente. Contudo, a melhoria não contemplou a todos. Ao contrário, a concentração de riqueza aumentou muito naquele interregno. Pode-se dizer, então, que este foi um ponto negativo, seguido de outro: o desmantelamento da polícia, bem como dos serviços públicos.
Uma outra consequência de anos de ditadura foi uma quase completa alienação política do população. Mesmo entre estudantes universitários, não se via mais interesse nas questões políticas, talvez em virtude de anos de repressão, torturas, assassinatos. Falar de política não fazia bem à "saúde".
Depois de todo esse tempo os militares entregaram aos civis um país completamente diferente daquele anterior ao golpe militar. Bom ou ruim, fato é que não se pode afirmar que a situação seria melhor se Jango não tivesse seu mandato interrompido. Nunca se saberá ao certo.
Novos tempos, século XXI, não dá mais para chorar o leite derramado, deve-se, sim, tomar cuidado para que não derrame mais. Olhar para traz para aprender com os erros do passado e focar o presente com os olhos para o futuro, assim como a divindade greco-romana Janus, deus das portas.
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