A paixão de cristo sempre mexeu muito com o meu emocional. Das vezes que assisti, em quase todas, chorei. Quando menino me perguntava como algumas pessoas podiam ser tão ruins a ponto de flagelar e depois pregar o filho de Deus numa cruz.
O tempo foi passando e a experiência foi mostrando que o mundo está cheio de atos de violência gratuita. Quem não se lembra do caso do índio Pataxó queimado vivo por jovens de classe média
Um fato recente envolvendo o goleiro Bruno, do Flamengo, ganhou destaque na imprensa nacional e internacional. A história mais se assemelha a um filme de terror trash, tal qual o massacre da serra elétrica, já que partes da vítima teriam sido devoradas por cães.(A bíblia narra uma história em que a perversa rainha Jezabel é lançada aos cães – 1Reis, 21:23).
Muito se fala da maldade humana, atribuindo-a, amiúde, a um ser sobrenatural: o Diabo. Quase ninguém assume que seria capaz de praticar atos antissociais, até porque a maldade está fora de quem a comete...
Lembro-me que quando do lançamento do filme a Paixão de Cristo, de Mel Gibson, este foi tachado de antissemita, pois os acusadores de Jesus eram Judeus. Ora, neste caso, acho que Gibson está inocente, porquanto se limitou a filmar passagens registradas nos evangelhos.
Em verdade, não há povo bom ou mau, o que se vê são agrupamentos de pessoas em torno de uma ideologia. Os judeus já estiveram em posição desvantajosa, especialmente durante a 2ª Gerra Mundial quando foram vítimas do holocausto promovido pelo sanguinário ditador nazista Adolf Hitler. Na polônia ocupada, Hitler determinou a construção de um muro para segregar os filhos de Davi.
Atualmente, o Estado de Israel construiu também um muro para isolar os palestinos.
Os americanos destruíram duas cidades japonesas com a bomba atômica, devastando predominantemente a população civil. Londres foi bombardeada pelos alemães na segunda Guerra Mundial e na extinta Iuguslávia se verificou um genocídio, denominado de limpeza étnica.
Americanos, franceses, alemães, japoneses, chineses e tantos outros são atores nesse grande cenário que é o mundo. A polarização, tal qual a que existia na guerra fria, já não subsiste. À época, os EUA conseguiram divulgar e inculcar em muitas mentes o discurso de que eles eram os libertadores e representavam o bem, enquanto os países da cortina de ferro, liderados pela então União Soviética, representavam o mal e deviam ser contidos.
Com a dissolução da União Soviética e a queda do muro de Berlim essa ideologia restou superada e hoje quase ninguém considera os EUA guardião bondoso do mundo civilizado.
Tomas Hobbes, teórico do absolutismo, afirmava que as pessoas precisavam de um ente poderoso – o Estado - para conter o querer individual, pois o homem, num hipotético estado de natureza, é ruim em essência.
Bondade e maldade são conceitos humanos e parecem ter nascido conosco. Será? Muitos gostam de falar da maldade humana, mas poucos procuram entender os seus mecanismos, sua etiologia.
Para aqueles que leram o livro de Michel Foucault, Vigiar e Punir, certamente se depararam com a descrição de uma execução de um parricida, chamado Damiens. O texto é forte e impressiona pela riqueza de detalhes. A condenação foi aplicada diante dos olhos do povo ali presente, como se estivessem num espetáculo de horrores.
Àquela época, não bastava a execução pura e simples, fazia-se necessário o suplício, o qual, além de castigar o apenado, tinha o condão de desestimular condutas criminosas.
Atos bondosos ou vis estão presentes em qualquer ser humano (A propósito, recomendo assistir o filme Crash, no limite, com direção de Paul Haggis). A mão que apunhala é a mesma que afaga.
Quem, em segredo, já não teve pensamentos homicidas em relação àqueles que lhe causaram algum dano ou lhes desagradaram? É claro que muitos nunca admitirão isso... Mas, fato é que esse tipo de pensamento é demasiadamente humano.
Você pode ficar a vida toda atribuindo a maldade ao diabo, mas saiba que isto só serve para justificar agressões e atos criminosos de outros, os quais podem, convenientemente, dizer estar possuídos e que não fariam isso em estado normal:
Prefiro pensar que fazer o bem é vantajoso a todos, porque nos preserva e viabiliza a coexistência pacífica. O caos decorrente de condutas sem limites é mau porque tem aptidão para aniquilar a vida humana.
Não estou a dizer que todos são sádicos. Não é isso. Mas que todos têm o potencial de ser aquele que desagrega e causa muito dano ao grupo.
Dessa forma, da próxima vez que pensar na maldade alheia, reflita por um momento e olhe para dentro de si mesmo, talvez, a partir de então, pare de odiar o malfeitor ou culpar a sociedade e o Estado pela corrupção do indivíduo. Oxalá perceba a importância da autocrítica e descubra que a origem de todo o mal está em cada um de nós.
David, gostei muito do seu espaço, além de seus textos. Vou linka-lo em meu blog. Concordo com vc: é preciso uma enorme coragem para a liberdade, para a verdade. Foucault tem um texto lindo sobre o tema: coragem de verdade. Obrigada pelo comentário!
ResponderExcluirOlá, Renata.
ResponderExcluirGostei muito de seu blog e tenho lido suas postagens sempre que posso. A blogosfera tem me surpreendido positivamente pela qualidade das informações que podem ser ali obtidas. Para contornar o problema da enorme quantidade de informações, tenho procurado seguir o exemplo de Michel Serres, que uma vez disse, a propósito do universo do conhecimento hoje posto a nossa disposição, que devemos pinçar informações relevantes.
Um grande abraço e obrigado pelo comentário.
Excelente texto, Davi! Somos mesmo essa mistura de sentimentos e desejos. O ser humano, desde que se sabe da sua existência, é bom e mau. O que me assusta é o fato das pessoas se deixarem manipular pela mídia que, de acordo com seus interesses, nos impõe o lado das coisas.
ResponderExcluirNo caso do bruno, por exemplo, é assustador pensar no que esse rapaz teve coragem de fazer, logo ele é o lado mau da história. Mas e os policiais que ouviram diversas vezes a denúncia de ameaça de morte da amante e nada fizeram? E o sistema que só faz alguma coisa depois que tal ameaça é cumprida, e a moça já morreu?
E os juízes que deram regalias para os assassinos "de boa família" do índio Pataxó???
Parece que, ao lembrar tudo isso, podemos entender que a humanidade realmente é má e está perdida. Mas ainda devemos acreditar que existe muitas pessoas boas, que fazem o contrário dessas barbaridades. Pessoas que lutam pela justiça, que emanam amor e solidariedade.
Bjs e parabéns pelo seu espaço, que está cada vez mais bonito!
Infelizmente o sistema viabiliza esses tipos de atrocidades. Mas, assim como você, acredito que muitas pessoas escolhem fazer o que certo ou pelo menos aquilo que é positivo ao grupo ou não cause dano à coletividade.
ResponderExcluirUm forte abraço e obrigado, Isabele.