quarta-feira, 4 de agosto de 2010

VAIDADE

Quem já não cometeu este pecado que se apresente ao mundo. 

A vaidade é um dos pecados mais frequentes no cotidiano. A moça que não para de se olhar no espelho, de acertar a maquiagem, pentear os cabelos. O rapaz que confere o volume de seus músculos, logo após a prática de exercícios
físicos.

Certa feita, um caso me chamou a atenção. Uma acusada presa por tráfico de drogas ao se entrevistar com a Defensoria Pública perguntou ao Defensor sobre a possibilidade de obter uma cópia de sua fotografia constante dos autos, tirada quando de sua identificação, em sede policial, pois a mesma considerou ter saído muito bem na fotografia. Em verdade, o que os autos do Inquérito Policial albergava era uma xerox de sua foto de "fichamento".

Aliás, a edição de hoje do jornal do Jornal Extra trouxe na capa a Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Christiane Monnerat em poses fotográficas dignas de uma modelo profissional. Vale à pena conferir o ensaio fotográfico, com direito a making of, no site do jornal. Neste caso, a vaidade venceu o medo, considerando que a ilustre presentante do Parquet ostenta um impecável histórico de firme atuação no combate à criminalidade organizada, que resultou na prisão vários criminosos.

Hoje a presença de homens nos salões de cabeleireiros, manicures e academias é cada vez mais freqüente, indicando uma tendência do macho do século XXI. É claro que este fenômeno não é inédito. A figura de Narciso, na mitologia grega, representa o homem vaidoso, apaixonado por sua própria figura.

A vaidade não se restringe aos aspectos estéticos, projetando-se, também, na seara intelectual. Nesse sentido, encontrar-se-ão muitos que se consideram tão instruídos a ponto de prescindir da opinião alheia e para os quais  as idéias são sempre postas como verdades absolutas e, portanto, incontrastáveis.

Nos meios acadêmicos e jurídicos os debates acalorados expõem o confronto de idéias cujas vantagens são experimentadas quase que, exclusivamente, pelos espectadores, os quais se beneficiam ao equacionar as verdades expostas.

Mas não há muito o que se fazer, somos irrecuperavelmente vaidosos. Mesmo aqueles que  recusam o papel de ídolos, neles “involuntariamente” se transformam. É o caso, por exemplo, de Jean-Paul Sartre, que, a par de seu excelente trabalho, ganhou ainda mais notoriedade ao recusar o Prêmio Nobel de Literatura em 1964.

Manter a mente aberta nem sempre é fácil. Deixar de lado velhos preconceitos, abandonar paradigmas afigura-se traumático para muitos. A forma de pensar não deve ser imutável, pois do contrário estar-se-ia a impedir o desenvolvimento das potencialidades humanas. 

O conhecimento é dinâmico e, por isso, o processo cognitivo não deve se conter em um punhado de informações, antes o sujeito do conhecimento deve se orientar no sentido de aprender coisas novas e transitar por outros modelos.

Mesmo à beira da morte, um homem pode aprender algo novo. O conhecimento, por sua própria natureza, deve ser compartilhado e não apropriado, sob pena de perder sua utilidade. Portanto, devemos nos acautelar e não permitir que a vaidade crie obstáculos a novas experiências.

No mais, ser vaidoso é demasiadamente humano e negar este sentimento é tão verdadeiro quanto afirmar que dois e dois são cinco.

Um grande abraço a todos e até a próxima.


2 comentários:

  1. Em alguns casos, a vaidade, longe de se constituir um pecado, pode ser considerada uma virtude. Virtude esta ligada ao zelo e busca constante de perfeição, como é o caso do seu Blog, meu caro amigo David.
    Um forte abraço de mais um filósofo vaidoso. rss

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  2. Obrigado por privilegiar este modesto espaço com suas percucientes considerações.
    Um grande abraço, querido amigo.

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