A vaidade é um dos pecados mais frequentes no cotidiano. A moça que não para de se olhar no espelho, de acertar a maquiagem, pentear os cabelos. O rapaz que confere o volume de seus músculos, logo após a prática de exercícios
físicos.
físicos.
Certa feita, um caso me chamou a atenção. Uma acusada presa por tráfico de drogas ao se entrevistar com a Defensoria Pública perguntou ao Defensor sobre a possibilidade de obter uma cópia de sua fotografia constante dos autos, tirada quando de sua identificação, em sede policial, pois a mesma considerou ter saído muito bem na fotografia. Em verdade, o que os autos do Inquérito Policial albergava era uma xerox de sua foto de "fichamento".
Aliás, a edição de hoje do jornal do Jornal Extra trouxe na capa a Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Christiane Monnerat em poses fotográficas dignas de uma modelo profissional. Vale à pena conferir o ensaio fotográfico, com direito a making of, no site do jornal. Neste caso, a vaidade venceu o medo, considerando que a ilustre presentante do Parquet ostenta um impecável histórico de firme atuação no combate à criminalidade organizada, que resultou na prisão vários criminosos.
Hoje a presença de homens nos salões de cabeleireiros, manicures e academias é cada vez mais freqüente, indicando uma tendência do macho do século XXI. É claro que este fenômeno não é inédito. A figura de Narciso, na mitologia grega, representa o homem vaidoso, apaixonado por sua própria figura.
A vaidade não se restringe aos aspectos estéticos, projetando-se, também, na seara intelectual. Nesse sentido, encontrar-se-ão muitos que se consideram tão instruídos a ponto de prescindir da opinião alheia e para os quais as idéias são sempre postas como verdades absolutas e, portanto, incontrastáveis.
Nos meios acadêmicos e jurídicos os debates acalorados expõem o confronto de idéias cujas vantagens são experimentadas quase que, exclusivamente, pelos espectadores, os quais se beneficiam ao equacionar as verdades expostas.
Mas não há muito o que se fazer, somos irrecuperavelmente vaidosos. Mesmo aqueles que recusam o papel de ídolos, neles “involuntariamente” se transformam. É o caso, por exemplo, de Jean-Paul Sartre, que, a par de seu excelente trabalho, ganhou ainda mais notoriedade ao recusar o Prêmio Nobel de Literatura em 1964.
Manter a mente aberta nem sempre é fácil. Deixar de lado velhos preconceitos, abandonar paradigmas afigura-se traumático para muitos. A forma de pensar não deve ser imutável, pois do contrário estar-se-ia a impedir o desenvolvimento das potencialidades humanas.
O conhecimento é dinâmico e, por isso, o processo cognitivo não deve se conter em um punhado de informações, antes o sujeito do conhecimento deve se orientar no sentido de aprender coisas novas e transitar por outros modelos.
Mesmo à beira da morte, um homem pode aprender algo novo. O conhecimento, por sua própria natureza, deve ser compartilhado e não apropriado, sob pena de perder sua utilidade. Portanto, devemos nos acautelar e não permitir que a vaidade crie obstáculos a novas experiências.
No mais, ser vaidoso é demasiadamente humano e negar este sentimento é tão verdadeiro quanto afirmar que dois e dois são cinco.
Um grande abraço a todos e até a próxima.
Em alguns casos, a vaidade, longe de se constituir um pecado, pode ser considerada uma virtude. Virtude esta ligada ao zelo e busca constante de perfeição, como é o caso do seu Blog, meu caro amigo David.
ResponderExcluirUm forte abraço de mais um filósofo vaidoso. rss
Obrigado por privilegiar este modesto espaço com suas percucientes considerações.
ResponderExcluirUm grande abraço, querido amigo.