domingo, 28 de fevereiro de 2010

Quem não tem preconceito atire a primeira pedra

No dia 27 de fevereiro de 2010, a Globonews exibiu uma entrevista com Lêdo Ivo, membro da Academia Brasileira de Letras. O imortal, do alto de seus 86 anos, mostrou-se bem humorado ao falar sobre vários assuntos. Disse que trocaria a posição conquistada pelo reconhecimento de seu trabalho por mais anos de vida. Defendeu a volta do ensino de latim nas escolas e fez alguns comentários sobre grandes ícones da literatura brasileira.

O acadêmico, sem meias palavras, disse que Oswald de Andrade é chato. Lembrou-se, ainda, de uma resposta dada a ele por Graciliano Ramos, ao ser indagado se lia Proust: não leio viado (sic). Afirmou, outrossim, que a exuberança paisagística do Brasil atrapalha a reflexão e que Machado de Assis foi  um tatu da alma, porque foi o único que penetrou fundo nos meandros da existência e espírito humanos.
Depois da entrevista, fiquei a refletir sobre um dos aspectos da natureza humana que todos querem omitir: o preconceito.
 
A formação que recebemos influencia decisivamente a forma com que encaramos os problemas e as várias situações cotidianas. Pensando apenas no vocábulo, podemos afirmar que o preconceito é um juízo prévio formulado com base em nossas experiências, sejam acadêmicas ou empíricas.

Na academia, mesmo hoje, o material coligido na internet não goza do mesmo prestígio daquele conseguido em livros.  Muitos ainda enfrentam filas nos bancos, porque receiam efetuar os pagamentos de seus compromissos por meio eletrônico, o mesmo acontece em relação às compras.

É claro que esses preconceitos estão com os dias contados: as gerações mais novas estão integradas a internet. Um exemplo disso são as redes sociais que não param de surgir aqui e acolá, assim como os Blogs. Aliás, em relação as estes últimos, já se cunhou até a expressão blogar - será que o Aurélio já registra este verbo?
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Não podemos olvidar que quando surgiram as bibliotecas físicas houve  reação daqueles que detinham o conhecimento.

Fato é que o preconceito sempre existirá. Os longos séculos decorridos não operaram mudança ontológica de sua estrutura, antes  a alteração sofrida situou-se no campo fisionômico. Mudou-se a roupagem, mas o ente é o mesmo. Isto não significa que muitas de suas manifestações permanecerão indefinidamente. Os preconceitos também se tornam obsoletos e desaparecem, dando lugar a outros tantos. Digamos que eles , em verdade, renascem com outros rostos.

Penso que o preconceito conecta-se, de certa forma, ao instinto de sobrevivência e mantém um flerte contínuo com o medo, sendo certo que ambos bebem na mesma fonte. Dessa relação surgiram os preconceitos raciais e econônicos. O racismo baseado na cor da pele, por exemplo, mostra-se o irmão que não deu certo e preferiu a marginalidade à vida regular com seus pares.

Este sentimento normalmente está associado à falsa sensação de superioridade, a qual encontra como suporte um complexo de inferioridade escondido desesperadamente. Hitler era de baixa estatura e , de certa forma,  parecia-se  fisicamente com o tipo judeu. O indíviduo que alvejou Martin Luterking certamente odiava as realizações e os feitos do grande lider negro e tinha, sobretudo, medo de ser superado.

Esse tipo de preconceito merece o tratamento dispensado aos criminosos, pois pernicioso à sociedade. Ningúem pode ser julgado com base na cor da pele e  por sua origem, critérios, deveras, teratológicos. Não existe superioridade baseada nesses elementos. A superioridade que precisa de afirmação fulcrada em elementos étnicos está assentada em alicerces de areia e cedo ou tarde  se desmantelará . Aliás, foi assim que aconteceu com o nazismo.

Acredito que os preconceitos nocivos nunca deixarão de existir, assim como o crime, a morte e outros eventos ligados à vida, mas acredito que o aperfeiçoamento da raça humana é possível a partir da tomada de consciência e reflexão sobre a forma como nos encaminhamos pela vida e nos relacionamos. A busca da sabedoria é o grande objetivo a ser perseguido e o agir individual, nesse sentido, ganha força e potência irradiadora que tem o poder da transformação, pois estabelece um paradigma positivo, levando esperança às gerações vindouras.

E você, tem preconceito?

Até a próxima.



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