sexta-feira, 5 de novembro de 2010

OS EXAGEROS DO POLITICAMENTE CORRETO

Os exageros do politicamente correto levou, esta semana, a quase proibição do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, das escolas públicas, segundo noticiado hoje, no Bom Dia Brasil, por supostamente conter expressões racistas quando se refere à Tia Anastácia. O Ministério da Educação voltou atrás após pronunciamento da Academia Brasileira de Letras e outras entidades e figuras de expressão da Literatura Brasileira.
A ABL pronunciou-se no sentido de se configurar censura a disposição do MEC em banir o livro das escolas públicas. O Ministro da igualdade racial, no entanto, discordou e apontou expressões racistas, uma delas seria a alusão à carne preta de Anastácia, dentre outras passagens.

Vive-se hoje um clima de caça às expressões tidas como preconceituosas e quanto a isto não vejo problema algum. É papel do Estado adotar as providências necessárias à promoção da igualdade e justiça. Nesse desiderato, pode cometer excessos, como no caso mencionado. As obras de Monteiro Lobato são patrimônio cultural do Brasil e já viraram clássicos da Literatura Nacional. Tia Anastácia é tratada com muito carinho em vários livros do autor, num dos quais é incumbida de contar a história do folclore brasileiro. Não há racismo aí e as expressões usadas nos livros devem ser contextualizadas pelo professor em sala de aula.

Ainda na linha do politicamente correto, é comum a mudança de nomes dos fenômenos a fim de minimizar seus efeitos. É o que acontece, por exemplo, em relação à fome, ora denominada de insegurança alimentar. Favela recebeu o confortável nome de comunidade e aquele que cantava o samba nas escolas de samba deixou de ser chamado de puxador para receber o nome de intérprete.

Isso tudo me faz lembrar aquela mãe muito pobre que põe um nome estranho e de gosto duvidoso e pretensamente imponente no seu filho, na esperança de que ele rompa aquele círculo de miséria. Ao falar isso, corro o risco de ser tachado de preconceituoso para os puritanos do politicamente correto. Será? Quem sabe alguém não vai querer me cassar a palavra?

Sou favorável às políticas que visam ao pleno desenvolvimento do ser humano sem preconceito de raça, cor, opção sexual e orientação político-filosófica, mas sou terminantemente avesso aos excessos, especialmente daqueles que querem se promover eleitoralmente à custa de uma parcela da população desatendida e abandonada. Os governos, infelizmente, nunca atacam a fonte dos problemas e procuram sempre maquiá-los e, não raro, estimulam mais segregacionismo.

Investir em educação nunca foi a prioridade do Estado, cujos interesses se situam, basicamente, no aumento da arrecadação tributária com vistas à manutenção dos gastos sempre crescentes da máquina pública, os quais não se materializam em políticas para a consecução do bem comum.

Com relação à educação, fala-se muito e pouco se faz e o que se faz é para por uma pá de cal sobre ela. É o caso, por exemplo, do sistema de aprovação automática que leva analfabetos funcionais às universidades. Estas, por sua vez, não preparam o estudante para a realidade do mercado de trabalho.

O contexto também parece não favorecer ao ensino de qualidade. Qualquer mudança deveria passar pela valorização do professor. Antes o que se vê é um desestímulo à atividade docente. Figuras do futebol, novelas e modelos de passarela recebem todos os aplausos e são reverenciados. Quase todo garoto quer ser jogador de futebol e não vê qual a importância que os estudos têm para a sua vida. Para que estudar se Romário, Edmundo, Neimar e outros ídolos são ricos e não se preocuparam muito com o conhecimento formal obtido nas escolas?

O dia em que o Brasil realmente se preocupar com a educação os demais problemas serão de mais fácil resolução, pois aí o povo saberá distinguir as boas políticas públicas daquelas meramente eleitoreiras e mantenedoras da miséria e status quo das populações desasistidas e quem sabe aí não escolherá os candidatos deveras comprometidos com a causa pública.

6 comentários:

  1. Pensei em escrever exatamente sobre isso ontem. É isso aí, David, "tá tudo dominado", rs! Temos que procurar refúgio em meio a esse bombardeio do politicamente correto. Excelente texto, forte abraço!

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  2. Penso que racismo é um tema que deve ser discutido, sobretudo nas escolas, de forma ampla, independente da literatura de Monteiro Lobato.

    Essa discussão me lembra uma outra, mais amena, a respeito das cantigas de roda infantis, como se cantar "Atirei o pau no gato" fosse levar criancinhas a assassinarem os bichinhos, e daí versões politicamente corretas foram criadas e cantadas nas escolas...

    Com tanta coisa pra se preocupar, como criar políticas públicas de formação de leitores de qualidade, por exemplo, e gente querendo censurar livros... Af!

    Excelente texto, querido. Pensei em escrever sobre isso hoje, mas nem será mais preciso... rsrs

    Bjo!

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  3. Parabéns pelo post. Lúcido, realista e infelizmente verdadeiro e atual!

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  4. Esclareça-se sobre o tema, lendo o artigo "Monteiro Lobato e a Educação das Relações Étnicorraciais, no blog Damarlu Educação ( www.damarlueducar.blogspot.com)

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  5. Exelente a forma com que vc esplanou a matéria,mas hoje no nosso Brasil esta dificíl saber o que pode e não pode,o que é certo e não é,praticamente TUDO hoje esta sendo alvo de preconceito,nem os que deveriam ter um maior dicernimento das normas que regem este país estão em condições para tanto.Que tal cantar é pau no burro(será q posso escrever isso? ) Abraço

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  6. Obrigado, Alina.
    Este espaço é democrático. Fique à vontade para expressar suas opiniões.
    Um forte abraço e até a próxima.

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