Cresci ouvindo música de gente grande. Quando menino, escutava minha avó lavando roupa e cantando sucessos de Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Carlos Galhardo, Silvio Caldas, Chico Alves, dentre outros.
Minha mãe, a seu turno, adorava Anísio Silva e cantarolava, vez e outra: Alguém me disse que tu andas novamente/Com novo amor nova paixão, toda contente.
Minha mãe, a seu turno, adorava Anísio Silva e cantarolava, vez e outra: Alguém me disse que tu andas novamente/Com novo amor nova paixão, toda contente.
Eram músicas que cantavam a tristeza do amor não correspondido, a desgraça, o infortúnio, como se observa, por exemplo, em Caprichos do Destino,
composição de Pedro Caetano e Claudionor Cruz, na voz de Orlando. Aliás, esta é uma das mais pesadas, superando inclusive Ninguém Me Ama, de Antônio Maria e Fernando Lobo. Confesso que ficava angustiado com aquilo, mas, paradoxalmente, vislumbrava uma beleza que me penetrava a alma e tocava o meu coração.
composição de Pedro Caetano e Claudionor Cruz, na voz de Orlando. Aliás, esta é uma das mais pesadas, superando inclusive Ninguém Me Ama, de Antônio Maria e Fernando Lobo. Confesso que ficava angustiado com aquilo, mas, paradoxalmente, vislumbrava uma beleza que me penetrava a alma e tocava o meu coração.
Viajei muito pelas canções e vivi, na imaginação, as histórias dos personagens nelas mencionados. Tornei-me um romântico irrecuperável, um aspirante a Castro Alves. Depois Roberto Carlos ocupou espaço na minha vida. Eu queria ser como ele, ter o cabelo comprido e, também, sofri muito o amor desesperado em Você já me Esqueceu, A Distância, Desabafo e muitas outras.
Taiguara também teve seu espaço, em Fim de Caso, de Dolores Duran, bem como Maria Bethânia, interpretando Explode Coração, do saudoso Gonzaguinha. E poderia ficar aqui a falar de tantos outros talentos, o que tornaria este texto muito extenso.
Mas todas essas influências contribuíram, positivamente, para tornar-me o que sou hoje: um apreciador da boa música, a qual, sem dúvida alguma, é atemporal.
Arrisco a dizer que a tristeza na MPB é herança portuguesa recebida por meio dos fados. O português que chorava a sua desventura, a infelicidade de estar longe da terra e a falta de sorte. Sim, creio que Portugal teve grande participação nisso tudo.
Seria o Brasil formado mesmo por três raças tristes? Alguns vão argumentar que as marchinhas de carnaval transmitiram muitas alegrias, de Chiquinha Gonzaga a Lamartine Babo. Não discordo disso, mas penso que o amor sofrido foi muito mais abordado. Quem não conhece Recusa, de Herivelto Martins: Sem motivo nenhum tu recusas um amor tão sincero/ Sem motivo nenhum abandonas a felicidade/ Minha vida é uma vída de mágoa de amor e descrença/ E eu sofro a sentir na recusa tamanha indiferença.
Os compositores modernos não conseguem se afastar das histórias de amor, veja-se, por exemplo, Ana Carolina, com Quem de Nós Dois. É claro que me refiro aos cantores e composições que ainda podem ser ouvidos e não ao lixo que vem sendo divulgado por aí e que faz muito sucesso, infelizmente.
O contato, desde tenra idade, com os sucessos dos ícones da música popular brasileira, numa época em que a música internacional invadiu às rádios, foi muito proveitoso e permitiu que eu conseguisse transitar por vários estilos, passeando entre várias sonoridades.
Da nova safra, aponto Jorge Vercilo, que muito me impressionou, pois resgatou, de forma bem leve, as dores de amor, levando adiante um trabalho começado por Djavan, não podendo deixar de citar, ainda, Vander Lee, com Esperando Aviões.
Marisa Monte parece ter bebido da água da mesma moringa que eu, pois tem um repertório bem eclético, fazendo incursões em vários estilos e épocas, cantando Pixinguinha, Candeia, Tim Maia, num magnífico trabalho de releituras indefectíveis de grandes êxitos.
Marisa Monte parece ter bebido da água da mesma moringa que eu, pois tem um repertório bem eclético, fazendo incursões em vários estilos e épocas, cantando Pixinguinha, Candeia, Tim Maia, num magnífico trabalho de releituras indefectíveis de grandes êxitos.
Gostaria que o Nelson Motta me socorresse agora para falar de tantos outros aspectos que merecem menção, mas, enquanto ele não vem, deixo o meu recado: a música popular brasileira sempre terá o seu espaço e os clássicos estão aí para garantir que o belo e o sublime sirvam de farol às novas gerações de compositores.
Parafraseado uma música de Caetano, termino este post dizendo salve o compositor popular.
Um grande abraço a todos e até a próxima.
MPB é uma delícia mesmo! E quem nunca derramou lágrimas ouvindo uma dessas músicas que atire a primeira pedra! O que seria do poeta sem a dor do amor, não é mesmo? rs
ResponderExcluirÓtimo post!
ps. Desses que vc citou, pra mim Marisa é a melhor! Rainha da MPB!
Bjs!
De fato, Isabele, as canções dão sentido e beleza a nossa existência. O que seria da vida sem essas canções que embalaram tantos corações apaixonados?
ResponderExcluirUm grande abraço